O homem das forças achou uma pulga. Prendeu-a entre os dedos e disse-lhe:
– És um ser insignificante e reles. Como te atreves a aparecer ao pé de mim, que sou o homem mais forte do mundo?
Respondeu a pulga:
– Fraca serei, mas, se eu quiser, levanto-te em peso. Aposto contigo.
O homem riu-se da prosápia da pulga. Ia a castigá-la pelo atrevimento, mas ela escorregou-lhe pela polpa dos dedos e desapareceu.
Estava já o homem das forças a dormir, quando a pulga se chegou, de novo, a ele. Passeou pelos lençóis e procurou-lhe o quente do corpo. Num sítio azado, por altura dos rins, ferrou-lhe uma grande dentada.
O homem, que estava no mais fundo do sono, mesmo assim, sentiu-se. Ergueu o corpo, apoiando-se na nuca e nos calcanhares e coçou, instintivamente, o lugar picado.
A pulga escapuliu-se-lhe às unhas e pregou-lhe outra ferroada, no mesmo sítio. Mais se arqueou o corpo do homem das forças, levantando ainda mais alto os lençóis que o cobriram.
Quem não soubesse a razão destes movimentos, acharia que o homem estava a ser soerguido e levado ao colo por uma escondida força, superior à dele.
E estava. O homem das forças acordou, atormentado pela comichão, mas a pulga nem se deu ao trabalho de cobrar-lhe a aposta. Com certos casmurros, quanto menos
conversas, melhor.
E, aqui para nós, com aquelas duas chupadelas de sangue já se sentia bem paga…
FIM
A FORÇA DA PULGA António Torrado
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