Interpretação Bíblica é um processo racional e espiritual que procura entender um antigo escritor inspirado, de tal forma que a mensagem de Deus possa ser entendida e aplicada em nossos dias.
O processo espiritual é crucial, mas difícil de ser definido. Isto envolve uma obediência e abertura absoluta para Deus. Precisa haver um desejo (1) por Ele, (2) de conhecê-lo, e (3) de servi-lo. Este processo envolve oração, confissão e o desejo de mudança do estilo de vida. O Espírito é crucial no processo interpretativo, mas por que cristãos sinceros e piedosos entendem a Bíblia diferentemente, é um mistério.
O processo racional é mais fácil de ser descrito. Nós devemos ser consistentes e justos com o texto e não sermos influenciados por nossas tendências pessoais ou denominacionais. Nós somos historicamente condicionados. Nenhum de nós somos objetivos, intérpretes neutros. Este comentário oferece um cuidadoso processo racional contendo três princípios interpretativos estruturados para nos ajudar a vencer nossas tendências.
Primeiro princípio
O primeiro princípio é perceber o cenário histórico no qual um livro bíblico foi escrito e a ocasião histórica particular para o seu autor.
O autor original tinha um propósito, uma mensagem para comunicar. O texto não pode significar para nós alguma coisa que nunca significou para o antigo, original e inspirado autor. Sua intenção – não nossa histórica, emocional, cultural, pessoal ou denominacional
necessidade – é a chave. Aplicação é um parceiro integral para interpretação, mas a própria interpretação precede sempre a aplicação.
Precisa ser reiterado que cada texto bíblico tem um e somente um significado. Esse significado é o que o autor bíblico original pretendia através da liderança do espírito comunicar para o seu tempo. Esse significado único tem diversas possíveis aplicações para diferentes culturas e situações. Essas aplicações precisam estar relacionadas à verdade central do autor original. Por essa razão, esse guia de estudo e comentário é designado para prover uma introdução para cada livro da Bíblia.
Segundo princípio
O segundo princípio é identificar a unidade literária. Cada livro bíblico é um documento único. Intérpretes não têm o direito de isolar um aspecto da verdade através da exclusão de outros. Portanto, devemos nos esforçar para entender o propósito de todo o livro antes de interpretarmos unidades literárias individuais. As partes individuais – capítulos, parágrafos ou versos – não podem ter um
significado diferente da unidade toda. Interpretação precisa mover-se de uma abordagem dedutiva do todo para abordagem indutiva das partes.
Portanto, esse guia de estudo e comentário é designado para ajudar o estudante a analisar a estrutura de cada unidade literária unida pelos parágrafos. Parágrafos e divisões de capítulos não são inspirados, mas nos ajudam a identificar o pensamento das unidades.
Interpretação ao nível de um parágrafo – não sentença, cláusula, frase ou nível de palavra – é a chave para se seguir o significado proposto pelo autor bíblico. Parágrafos são baseados em um tópico único, geralmente chamados de tema ou tópico. Cada palavra, frase, cláusula e sentença em um parágrafo se relacionam de alguma forma ao tema unificado. Eles o limitam, expandem, explicam e
ou o questionam. A chave real para uma interpretação apropriada é seguir o pensamento original do autor com base em parágrafo por parágrafo através da unidade literária que forma o livro bíblico. Esse guia de estudo e comentário é designado para ajudar o estudante a fazer isso através da comparação com as modernas traduções inglesas. Essas traduções foram selecionadas por que empregam diferentes teorias de tradução:
1. O texto grego da Sociedade Bíblica Unida é a quarta edição revisada (UBS4). Esse texto foi paragrafado por modernos especialistas textuais.
2. A New King James Version (NRSV) é uma tradução palavra por palavra baseada na tradução do manuscrito Grego conhecido como Textus Receptus. Sua divisão em parágrafos é mais longa do que outras traduções. Essas unidades mais longas ajudam o estudante a ver os tópicos unificados.
3. A New Revised Standard Version (NRSV) é uma tradução modificada palavra por palavra. Ela forma um meio termo entre as duas modernas versões que seguem. Sua divisão em parágrafos é bastante útil em identificar os assuntos.
4. A Today`s English Version (TEV) é uma tradução dinâmica equivalente publicada pela Sociedade Bíblica Unida. Ela busca traduzir a Bíblia de tal forma que fala ou lê o Inglês moderno possa entender o significado do texto Grego. Frequentemente, especialmente nos Evangelhos, ela divide os parágrafos por quem está falando ao invés do assunto, da mesma forma que na NIV. Para o propósito do autor, isto não é útil. É interessante registrar que tanto a (UBS4) quanto a TEV são publicadas pela mesma entidade, embora com parágrafos diferentes.
5. A Bíblia de Jerusalém (BJ) é uma tradução dinâmica equivalente baseada na tradução Católica Francesa. É muito útil em comparação com os parágrafos de uma perspectiva Européia.
6. O texto impresso é uma versão atualizada de 1995 da New American Standard Bible (NASB), que é uma tradução palavra por palavra. Os comentários verso por verso seguem essa forma de parágrafos.
Terceiro princípio
O terceiro princípio é ler a Bíblia em diferentes traduções de maneira a assegurar a mais ampla variedade de entendimento (campo semântico) que as palavras ou frases bíblicas possam ter. Frequentemente uma palavra ou frase Grega pode ser entendida de diversas maneiras. Essas diferentes traduções oferecem opções e ajudam a identificar e explicar as variações dos manuscritos Gregos. Elas não afetam a doutrina, mas nos ajudam a tentar retornar ao texto original escrito pelo antigo escritor inspirado.
Quarto princípio
O quarto princípio é notar o gênero literário. Os inspirados autores originais escolheram gravar suas mensagens de diferentes formas (narrativas históricas, dramas históricos, profecias, evangelhos [parábolas] cartas, apocalípticos). Esses diferentes estílos, têm chaves especiais para interpretação.
Esse comentário ofereceu uma rápida maneira para o estudante analisar suas interpretações. Ele não pretende ser definitivo, mas informativo e provocador da reflexão. Com freqüência, outras possíveis interpretações nos ajudam a não sermos tão paroquiais, dogmáticos e denominacionais. Intérpretes precisam ter uma ampla variedade de opções interpretativas para reconhecer quão ambíguos os textos antigos podem ser. É chocante ver que há pouco acordo entre os cristãos que proclamam ser a Bíblia sua fonte de verdade.
Esses princípios têm me ajudado a superar muitos de meus condicionamentos históricos por me forçarem a confrontar os textos antigos. Minha esperança é que isso será uma bênção para você da mesma forma.
Bob Utley Universidade Batista do Leste do Texas
27 de Junho de 1996
Formato Pdf: Marcos, I e II Pedro - Estudos Bíblicos
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